Recentemente li um artigo que me trouxe uma nova luz sobre a mensagem da cruz. Não que as mensagens da cruz me fossem totalmente desconhecidas, mas, sim, que eu nunca as havia articulado da maneira como o autor as articulou. Enquanto eu lia aquelas palavras, no meu coração havia um misto de alegria e de maravilhamento. Aquelas palavras que me conduziam por um caminho que eu já conhecia (alegria), mas, que ao mesmo tempo, me parecia tão novo (maravilhamento).
Sem dúvida, essa é uma das marcas da vida com Deus. Estamos sempre andando por caminhos que já conhecemos, mas que, ao mesmo tempo, são sempre tão novos. Pense por um instante. Não é assim com a nossa vida de oração? Os caminhos com Deus em oração não são, ao mesmo tempo, conhecidos e maravilhosamente novos? Oramos todos os dias e, todos os dias, somos convidados a vivenciar experiências novas no nosso relacionamento com Deus. É o mesmo Deus, o mesmo período de oração, e, muitas vezes, as mesmas palavras; mas, ao mesmo tempo, é um momento único – nunca vivenciado, em que a doçura de Deus nos parece tão nova e fresca!
E o que nós podemos dizer da nossa leitura da Bíblia? Lemos os mesmos textos tantas vezes, e maravilhosamente, eles sempre parecem tão novos, tão cheios de vida e tão repletos de respostas para nós! “Essa era justamente a palavra que eu precisava ouvir hoje,” falamos com nós mesmos. E às vezes até nos perguntamos: “Como é que eu nunca havia percebido isso antes?” Não é que as palavras sejam novas, mas sim que o Espírito Santo as torna novas para nós. Ele opera em nossas mentes e corações, abrindo-nos os olhos, falando conosco, e trazendo nova luz e entendimento àqueles conhecidos versículos da Bíblia.
Foi isso o que aconteceu comigo ao ler esse artigo sobre a cruz. Pouco a pouco, a mensagem da cruz foi se descortinando diante dos meus olhos e eu percebi que a cruz não é somente um símbolo que fala sobre o perdão dos nossos pecados, mas é também uma prescrição sobre a única maneira como podemos viver a vida que Deus nos prometeu. A cruz sempre anuncia duas coisas: primeiro, que os nossos pecados já foram perdoados; e, segundo, que a nossa vida nessa terra vai ser marcada por renúncias. A cruz não apenas nos dá a vida, mas ela também nos tira a vida. Ela não apenas promove a reconciliação entre o homem e Deus, mas ela também anuncia a separação entre os diversos tipos de pessoas, entre aqueles que querem viver para o Reino de Deus e aqueles que querem viver de acordo com o espírito do mundo.
Jesus, ao falar sobre a sua morte na cruz, e, portanto, ao falar sobre o plano de Deus para a redenção do homem, falou também, no mesmo contexto, sobre a morte do homem. No mesmo contexto em que ele disse que a sua morte na cruz era necessária – para trazer a vida aos homens, ele também disse que a cruz é necessária na jornada da vida desses mesmos homens que recebem vida. Imediatamente depois que ele falou que ele precisava ir a Jerusalém para ser morto e ressuscitar ao terceiro dia, ele disse: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á” (Mateus 16.24-25).
Da perspectiva de Jesus, a cruz é o símbolo tanto da sua morte redentiva em favor do homem, quanto da vida de renúncias desse mesmo homem por causa da mensagem de Cristo. O autor do artigo que eu li recentemente, Jonathan J. Bonk, disse que, “Muitos, achando-se a si mesmos discípulos de Cristo por terem aceitado – superficialmente – o que Jesus lhes oferece através da cruz, são, na verdade, uma fraude. Encontrando esse tipo de “crentes” na cidade de Filipos, Paulo, chorando, reconheceu que muitos “são inimigos da cruz de Cristo … [porque] só se preocupam com as coisas terrenas” [Filipenses 3.18-19.] A comunhão da cruz era estranha para aqueles membros da igreja. Eles não haviam se conformado com Jesus na sua morte. “O destino deles é a perdição,” concluiu Paulo com os olhos cheios de lágrimas,” afirma Bonk em seu artigo.
De repente, como que ouvindo, mais uma vez, uma velha novidade, reconheci que a mensagem da cruz não é apenas uma, mas duas! A cruz não apenas nos diz que recebemos a vida através de Cristo, mas também que perdemos a nossa vida por causa de Cristo. Nós não somente entramos no Reino dos Céus, mas também saímos do império dos trevas. Nós não somente formos tornados amigos de Deus, mas também nos tornamos inimigos do mundo sem Deus. Por essa razão, não há como aceitarmos a mensagem da cruz e vivermos os valores contrários à mensagem da cruz; abraçarmos a cruz e ao mesmo tempo abraçarmos o mundo; ganharmos a vida no céu e segurarmos a nossa vida na terra; dizermos SIM para a vida com Jesus e ao mesmo tempo SIM para a vida dessa terra. Não há como vivermos o “melhor dos dois mundos.” Esses dois mundos são opostos, antagônicos, e contrários. A cruz é uma só, mas a sua mensagem são duas!
Então eu entendi porque, no passado, quando os missionários eram enviados para o campo, no ato do envio, eles recebiam uma cruz. O propósito disso era tão somente o de fazê-los lembrarem-se, e jamais se esquecerem de que eles deveriam viver sob a dupla mensagem da cruz, dessa cruz, que é sinal tanto de vida, quanto de morte; tanto de ganho, quanto de perda; tanto de conquistas, quanto de renúncias; tanto de fragilidade, quanto de poder; tanto de fraqueza, quanto de força; tanto da morte do homem, quanto da vida por meio de Cristo; tanto da perda desse mundo, quanto da esperança dos céus.
Nesse momento, não há como não me lembrar da maravilhosa novidade daquele antigo hino:
Rude cruz se erigiu
Dela o dia fugiu
Como emblema de vergonha e dor
Mas contemplo essa cruz
Porque nela Jesus
Deu a vida por mim pecador
Sim, eu amo a mensagem da cruz
‘Té morrer eu a vou proclamar
Levarei eu também minha cruz
´Té por uma coroa trocar
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