domingo, 25 de abril de 2010

A Paternidade de Deus



Introdução
A nossa sociedade é uma sociedade que, dia após dia, tem atacado os valores e instituições mais importantes que existem. Nesse sentido, temos visto a crise pela qual a família tem passado. São inúmeros os casos de divórcio, de adultério e até mesmo de homossexualismo.


Em uma sociedade assim, o que mais falta são referenciais que possam orientar o adolescente; uma figura que tem cada vez mais perdido o sentido para muitos meninos e meninas é a do pai. Hoje, é normal encontrar famílias constituídas apenas de mãe e filhos, pois o pai, depois de muito tempo, abandona essa família para ir em busca de um novo relacionamento. Existem aqueles casos de adolescentes que nunca experimentaram o amor de um pai, simplesmente porque jamais conviveram com um. Outros adolescentes até têm um pai, mas ele é tão ausente que ter ou não ter passa a ser a mesma coisa. Ainda existem aqueles pais que, para cobrirem o vácuo da sua ausência, deixam com que os filhos façam de tudo ou vivem lhes enchendo de presente e dinheiro, quando o que seus filhos mais querem é a sua simples presença e amizade.
O grande problema que é gerado com essa deformação da figura paterna em nossa sociedade é que passamos a ter muitos adolescentes que não conseguem ter um relacionamento com Deus e que não compreendem que Este é seu Pai, pois o exemplo de pai que tiveram ou têm é negativo. Gostaria de dizer que apesar de ser inevitável esse paralelo de Deus-Pai com nossos pais humanos, não devemos nos limitar e nos prender a essa visão que nos impede de viver um relacionamento pleno com Deus. Sendo assim, gostaria de trazer à sua compreensão o que é ser Deus-Pai. Estaremos procurando entender à paternidade de Deus através da oração do Pai nosso que você vai localizar em Mt 6.9-15


1. Pai Nosso que estás nos céus.
Quando um adolescente chega à compreensão de que Deus é Pai, ele entende que Deus é diferente. Nas palavras de Karl Barth: "Deus é o totalmente outro". Ter Deus como pai nos leva ao entendimento de que somos seus filhos e mais que isso, nos tornamos conscientes de que não estamos sós no mundo: temos irmãos. O adolescente tem necessidade de relacionar-se com as pessoas. Ele tem particularidades e atitudes próprias que são muitas vezes mal interpretadas, mas é a partir da compreensão de que é filho de Deus, que ele passará a ver o outro como irmão, por ser esse filho de seu Pai. Na paternidade espiritual, o adolescente será levado à compreensão de que é o chamado de Cristo que nos une, nos torna irmãos. Essa é uma grande bênção que resulta do entendimento de Deus como Pai para o adolescente: a consciência de que ele não está só no mundo, que tem um Pai e que este o inseriu dentro de uma família de muitos irmãos através do sacrifício de Jesus. Entender que esse Pai que está nos céus o leva a olhar para fora dele, a buscá-lo em seu lugar, que é sempre mais elevado que o dele: o céu.

2. Santificado seja o teu nome.
Outra coisa que deriva da paternidade de Deus e que o adolescente precisa compreender é que Deus é santo. Nossa vida deve ser vivida de modo a não profanar o santo nome de Deus e nem manchar seu Evangelho. Reconhecer nosso Pai como santo é entender que através dele somos chamados a ser santos também (1Pe 1,16). Isso é libertador para o adolescente, pois significa que o adolescente está livre de buscar a santidade por si mesmo, baseado em seus esforços, significa, antes, que ele é santo e buscará a santidade através do fato Deus ser santo. Deus Pai, ao nos convidar a ser santo através de si mesmo, mediante seu Filho, queria nos libertar da escravidão de nossos esforços que são inúteis sem a ação de nosso Deus.

3. Venha o teu reino.
Quando entendo Deus como Pai, posso chamar seu reino com confiança. Essa é a terceira bênção que decorre do fato de Deus ser Pai. Posso viver a realidade do seu reino aqui na terra. Esse reino não é vivido como muitos ensinam, baseados na busca de bens materiais e coisas extraordinárias, mas é sim a possibilidade de participar da construção do Reino de Deus, no sentido de levar Deus Pai a outros que se tornarão filhos e irmãos nossos. Entender a benção do reino é muito importante, pois nossa sociedade tem procurado ensinar ao adolescente que o consumismo, que os prazeres desordenados e que a relativização das coisas são normais. Essa é justamente a mensagem contrária ao reino de Deus. Nosso Pai quer nos conduzir através das "águas de descanso bem regadas", mas também quer nos fazer entender que está conosco quando entramos no "vale da sombra e da morte", ou seja, o Pai é pai na alegria e na dor, no prazer e na carência, em todas as situações. Entender isso é fundamental para o adolescente, pois só assim ele conseguirá mudar de mentalidade, rejeitando os valores estipulados pela sociedade como bons.

4. Faça-se a sua vontade, assim na terra como no céu.
A partir do que já tem aprendido sobre a paternidade de Deus, o adolescente chega a um momento decisivo. Ele pode colaborar com a visão deturpada que a sociedade tem a seu respeito, ou seja, a compreensão de que ele é um rebelde, que não sabe muito bem o que quer, etc; ou pode se render ao seu Pai, e é essa a quarta grande bênção: render-se a Deus. Assumir que a vontade de nosso Pai é melhor que a nossa e segui-la. Numa sociedade que nos leva a fazer somente aquilo que nos agrada, que frisa que nós temos os nossos direitos e devemos exigi-los, que nos ensina que certo é o que nós chamamos de certo, que nos ensina a ser egoístas e a querer o melhor sempre para nós mesmos, essa benção da submissão, de se submeter à vontade de Deus, entendendo-a como o melhor para nós, é algo difícil até mesmo de se encarar como bênção e é através da vontade de nosso Pai que seremos disciplinados e viveremos uma vida que está mais de acordo com aquilo que Ele tem preparado para nós. A grande verdade, porém, é que temos medo dessa vontade de Deus. Como adolescentes, pensamos que se nos submetermos à vontade de Deus, essa será a oportunidade ideal para Ele nos torturar, para Ele destruir nossos sonhos. A verdade, porém, é outra: Deus só tirará da nossa vida aquilo que não O agrada e nem nos abençoa, pois apesar de acharmos que entendemos muito bem as coisas, é o nosso Pai Celestial quem as contempla de uma maneira mais perfeita.

5. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.
A partir do entendimento de que a vontade de Deu (nosso Pai) é a mais perfeita e a melhor para a vida, o adolescente poderá entrar na realidade das suas necessidades serem supridas por Deus. Todo adolescente tem suas carências, suas lutas, suas buscas. É a necessidade do afeto, do amor, do respeito, da presença que nos ajuda, a necessidade de trabalho, de espiritualidade, de comunhão com Deus. O adolescente é um ser social que precisa de dinheiro, de divertimento, de família e de todas as coisas já citadas acima. O pedido pelo pão nosso de cada dia é o pedido por cada uma dessas coisas e é o entendimento de que elas só serão abençoadas e satisfatórias se forem dadas por Deus. Pedir pelo pão nosso de cada dia é ainda mais que isso, é declarar a nossa total falência, a nossa incapacidade de conseguirmos algo de bom por nós mesmos. É declarar que a vontade de Deus é perfeita e é o melhor para nós. Quando o adolescente pede pelo pão nosso de cada dia ele precisará aprender que essa oração terá que ser feita todos os dias. Cada dia reconhecendo Deus como seu Pai, ele terá que se achegar confiadamente a Ele e pedir-lhe humildemente o pão que vai sustentá-lo naquele dia. É esse mesmo pão que através da vida dele o capacitará como filho de Deus a repartir com seus irmãos. Esse é um desafio grandioso, pois quando pedimos algo a Deus nem mesmo pensamos em dividi-lo com o nosso próximo. Com o pão nosso de cada dia não poderá ser assim, pois ele existe para ser colocado na mesa e comido em comunhão.


6. E perdoa as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores.
Outra grande dádiva que vem de vivermos debaixo da compreensão da paternidade de Deus é a de que nós somos perdoados pelo nosso Pai celestial mediante o sacrifício de Jesus Cristo na cruz. Mas o adolescente perguntará: de que fomos perdoados? Fomos perdoados do afastamento de Deus, perdoados dos nossos erros, da nossa prostituição, fomos perdoados do nosso egoísmo, enfim, das obras da carne. E isso é uma benção, que uma vez mais, por Deus ser nosso Pai, nos leva à lembrança de que como filhos não somos únicos, somos filhos que têm irmãos. E nesse sentido onde está a bênção? Está no fato de que posso colocar aquilo que aprendi com meu Pai em prática. Porque fui perdoado e aprendi o que é o perdão, posso perdoar o meu irmão que está em falta comigo. Na verdade, podemos definir a comunidade cristã como a comunidade dos pecadores perdoados que são chamados a perdoar os irmãos. Diante de Deus, somos culpados conjuntamente. Assim, não posso simplesmente decidir não perdoar o outro, pois não perdoando o outro em certo sentido, não estou me perdoando e estou me fechando para a possibilidade do perdão de Deus. Existem alguns adolescentes que jamais perdoam o que outros fizeram com eles, sem jamais levar em conta o que fazem com os outros todos os dias e ainda mais sem levar em conta o perdão de Deus. São como o servo da parábola que, depois de perdoado por seu Senhor, ao encontrar-se com um conservo seu que o devia, o lançou na prisão sem perdão. Esse homem, como muitos adolescentes, não entendeu a bênção de ser perdoado, ou seja, não aprendeu que somos perdoados para nos tornarmos perdoadores.

7. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.
Todos os dias, os adolescentes são expostos a diversas tentações. Entender Deus como Pai é entender seu amor infinito que nos quer fazer passar aprovados por essas tentações para sermos livres do mal do pecado, do diabo e do mundo. Ser filho de Deus é reconhecer a atuação do mal no mundo através do pecado, do diabo e da carne (modo egoísta de viver no mundo). Assim sendo, ser filho de Deus nos leva para a dimensão de sermos lutadores. O adolescente é chamado por Deus Pai para resistir ao Diabo, para fugir das paixões da mocidade e para não ter nada com a mentalidade corrupta que impera no mundo. Essa chamada para sermos filhos lutadores de Deus é a chamada para o entendimento de que existem forças atuando em nosso mundo que querem nos fazer viver como bastardos. No entanto, somos chamados a ser filhos e não bastardos, como dizem as Escrituras (Hb 12.4-12). Como adolescentes, temos a tentação de querermos ser logo independentes. Essa tentação é um mal, porque o convite de Jesus para nós que somos filhos de Deus é sermos como crianças. Isso é particularmente forte se lembrarmos que, quando Jesus falou isso, estava cercado de crianças que seus discípulos, momentos antes, queriam afastar de sua presença. Temos também a tentação de nos julgar melhores que os outros e diante de Deus somos todos filhos e chamados a considerar os outros mais que a nós mesmos.

Conclusão: Amém!
Amém, quer dizer "assim seja". Que se cumpra a nossa oração e não a nossa vontade. Que nossa oração que reconhece a dimensão da superioridade de Deus, que nos coloca no nosso lugar de homens, e Deus realmente como Deus, possa se concretizar. O adolescente, através do amém, aprenderá a viver uma vida de coragem. É preciso vencer o medo que temos e realmente confiar em Deus como um Pai amoroso para podermos dizer amém realmente, pois esse amém é a própria renúncia do que achamos correto e a declaração de que enfim é nosso Pai que quer o melhor para nós.
O amém nos leva, como adolescentes, para a compreensão de que não seremos filhos eternamente. Deus nos assume como seus filhos para nos tornarmos pais espirituais de outros. A grande questão é que jamais chegaremos a serem pais se não aprendermos a ser filhos verdadeiramente, e só somos filhos quando, apesar de qualquer coisa, olhamos para o céu e aprendemos a dizer intimamente e humildemente: Aba, Pai!

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